domingo, 27 de agosto de 2017

Busca pela felicidade

Em uma meditação, Hécate me ensinou muito sobre a felicidade, é uma das meditações mais bonitas que já tive o prazer de ler e gostaria de compartilhá-la aqui. Ela foi retirada desse livro, A Magia de Hécate, do Sabá de Yule.



Sobre a felicidade, já ouvi palestras falando que ela se assenta sobre alguns pilares: gratidão, otimismo, relações e momentos significativos. 
Quem conhece e segue o caminho dos Deuses é um ser feliz por natureza, já que toda nossa relação com eles é baseada na gratidão, pelas pequenas e grandes bênçãos. O otimismo está em acreditar que os Deuses vão estar ao seu lado e fazer com que você tenha o que você precisa, se assim merecer. E relações e momentos significativos, pois valoriza-se cada pequeno momento e as pessoas, porque você sabe o ciclo das coisas, que tudo vai morrer, e valorizar é aproveitar todas essas oportunidades.
Os Deuses são seres muito bons, claro que não se pode vacilar muito com eles.
Mas afinal o Universo (e seus seres) é bom.

Vaidade e amor próprio

Quem estuda os mitos gregos percebe que a vaidade é uma das coisas mais castigada pelos Deuses. Histórias como de Aracne e Narcísio refletem bem as coisas ruins que a vaidade gere na nossa relação com os Deuses.

"Ter vaidade e se gabar sobre algo é primeiro passo para você perder isso."

Porém, o amor próprio, que é algo vital na vida e no caminho de felicidade de alguém, por muitas vezes é confundido, erroneamente, com vaidade. Entretanto, há diferenças essenciais que aprendi com minhas Deusas (Hécate, Afrodite e Atena). Por exemplo, quando você se sente bonita, qual é o limiar entre vaidade e amor próprio? O limiar está na sua relação com as outras pessoas, por exemplo, se você gosta de uma pessoa mas ela não está nem aí para você, a vaidade faria você ficar abalado e com raiva dessa pessoa e do seus companheiros (ah mais eu sou mais bonita que fulana, porque ele fica com ela mas não fica comigo?). O amor próprio, nesse caso, seria: ah tudo bem, eu sou legal, mas se ele não me quer, é escolha dele, isso não afeta o quão me acho bonita.
Amor próprio seria se achar uma pessoa sensacional independentemente da reação dos outros. E sem se gabar por isso.
Muitas pessoas ficam em uma relação destrutiva e abusiva por vaidade. Por achar legal ter uma pessoa bonita ao seu lado (fulano é bonito e fulano é meu) e por isso não conseguir se livrar desses relacionamentos quando eles se tornam abusivos. Matando o amor próprio, se machucando por causa de uma vaidade, de uma pseudo posse sobre alguém.

Gostaria com esse texto, inspirar as pessoas e trazer a reflexão: as coisas que você faz? É por vaidade? Até onde vai o seu limiar entre vaidade e amor próprio?

domingo, 6 de agosto de 2017

Orações para cada aspecto de Hécate (segundo os Sabás)

Retirado de "A Magia de Hécate: Uma Roda do Ano com a Rainha das Bruxas", no qual falei nesse post. São pequenas orações para cada aspecto de Hécate. Segue as faces de acordo com os Sabás de Hécate. Recomendo seguir os rituais de sabás descritos no livro por completo, é uma jornada de auto-conhecimento.












domingo, 12 de fevereiro de 2017

Hinos a Afrodite

Retirado de RHB

Hino de Safo a Afrodite

De flóreo manto furta-cor, ó Imortal Afrodite,
Filha de Zeus, tecelã de ardis, suplico-te:
não me domes com angústias e náuseas,
veneranda, o coração,
mas para cá vem, se já outrora -
a minha voz ouvindo de longe - me
atendeste, e de teu Pai deixando a casa,
de áurea a carruagem atrelando vieste. 
E belos, te conduziram,
velozes pardais, em torno da terra negra -
rápidas asas turbilhoando céu abaixo e
pelo meio do éter.
De pronto chegaram. E tu, ó Venturosa,
sorrindo em tua imortal face,
indagaste por que de novo sofro e por que
de novo te invoco,
e o que mais quero que me aconteça em meu desvairado coração: 
"Quem de novo devo persuadir
ao teu amor? Quem, ó
Safo, te maltrata?
Pois se ela foge, logo perseguirá;
e se presentes não aceita, em troca os dará;
e se não ama, logo amará,
mesmo que não queira."
Vem até mim também agora, e liberta-me dos duros pesares, e tudo o que cumprir meu coração deseja, cumpre; e tu mesma,
sê minha aliada de lutas.
(tradução do grego por Giuliana Ragusa)

Clique aqui para ver o vídeo do hino em grego, cantado pela Álex, com melodia de Melissa G.
Clique aqui para a mp3 do hino em grego clique aqui para a mp3 do hino em português.


Hino Órfico 54 - A Afrodite
Celeste (Urânia), ilustre Rainha de risada amorosa, nascida do mar, amante da noite, de um modo terrível; astuciosa, de quem a necessidade (Anankê) primeiro veio, Senhora produtora e noturna, Dama que a todos conecta. Teu é este mundo para se unir com harmonia, pois todas as coisas brotam de ti, ó poder divino. Os triplos Destinos (Moiras) são regidos por teu decreto, e todas as produções se rendem semelhantemente a ti, o que quer que os céus circundem e contenham, toda a produção dos frutos da terra, e do alto-mar tempestuoso, a ti o balanço confessa e obedece a teu aceno. O atendente terrível do brumal Deus (Baco), Deusa do Casamento, charmosa à visão, Mãe dos Amores (Erotes), que se delicia em banquete. Fonte de Persuasão (Peitho), secreta, Rainha Favorável, ilustremente nascida, aparente e não-vista. Esposa, lupercal, e inclinada a homens prolíficos, a mais desejada, doadora de vida, gentil. A grande Portadora do Cetro dos Deuses, a quem os mortais em necessidade tendem a se juntar; e toda tribo de monstros selvagens horrendos em correntes mágicas amarras, através do desejo insano. Venha, Nascida em Chipre, e incline-se à minha prece, se exaltada nos céus tu brilhas, ou satisfeita com o templo na Síria que presides, ou sobre as planícies egípcias teu carro guias, enfeitada de ouro; e perto dessa enchente sagrada e fértil, conhecida por fixar teu domicílio santificado. Ou se rejubilando nos litorais cerúleos, próxima a onde o mar com seus rugidos espumantes ondula, os coros de mortais circundam tuas delícias, ou as belas ninfas, com olhos de brilhante azul cerúleo, satisfeita com os bancos pardos reconhecidos de velhos, para dirigir teu rápido carro dourado de duas parelhas. Ou se em Chipre com tua linda Mãe, onde as mulheres casadas te louvam a cada ano, e as belas virgens se unem ao coro, o puro Adônis canta tua Divindade. Venha, Toda Atrativa, para a minha prece inclinada, a ti eu chamo, com mente sagrada e reverente.



Hino Homérico X - A Afrodite
À da Citéria, nascida em Chipre, eu cantarei. Ela dá gentis presentes aos homens. Sorrisos sempre estão em seu amável rosto, e amável é o brilho que se apresenta sobre ele. Eu te saúdo, ó Deusa, Rainha da bem-formada de Salamis e da cinta marinha de Chipre; agracio-lhe com uma canção de júbilo. E então me lembrarei de ti e de outra canção também.

Hino Homérico VI - A Afrodite
Canto à Afrodite imponente, bela e coroada de ouro, cujo domínio são as cidades cercadas por todo o mar de Chipre. Lá o hálito úmido do vento oeste a fez flutuar sobre as ondas do mar, que geme alto em suave espuma, e lá as Horas de fios dourados deram-lhe alegremente as boas-vindas. Elas a vestiram com trajes celestes, em sua cabeça colocaram uma coroa bem tecida de ouro, e em suas orelhas furadas elas penduraram ornamentos de oricalco e ouro precioso. E adornaram-na com colares dourados sobre seu suave pescoço e seus seios brancos como a neve, jóias de filetes dourados, as quais as Horas usavam elas mesmas sempre que iam à casa do Pai se unirem às danças amáveis dos Deuses. E, quando elas a tinham plenamente enfeitado, elas a trouxeram até os Deuses, que a saudaram em boas-vindas quando a viram, dando-lhe as mãos. Cada um deles pediu para levá-la para casa e torná-la sua esposa, de tão grandemente deslumbrados com a beleza da Citéria, de coroa violeta.
Saúdo-te, Deusa docemente premiada, de olhos modestos. Conceda, e que eu possa ganhar, a vitória nesta competição e que possa dirigir a ti a minha canção. E agora eu me lembrarei de ti e outra canção também.
(traduções de Alexandra)

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Hino Órfico a Tyche

Hino Órfico a Tyche LXXI

Se aproxime, Fortuna (Tyche), com mente propícia e rica em abundância, e esteja inclinada à minha prece.
Plácida e gentil Trívia, com poderoso nome, Diana Imperial, nascida de Plutão (Eubouleos), muito afamada.
Inconquistável pela humanidade, as preces sem fim são suas, sepulcral, poderoso poder divino e abrangente.
Em ti, nossa vida mortal é encontrada, e alguns, por ti, abundam com muitas riquezas.
Enquanto outros lamentam, tua mão aversa à abençoar, com amargura e angústia.
Esteja presente, Deusa, nessa prece, e dê a abundância, com mente benigna!

Retirado de Theoi e traduzido por mim.

Hinos a Agathos Daimon

Retirado de RHB

"Agathos Daimon, tu sentas no canto de meu lar, na sombra fria da minha despensa, como escapaste do calor insuportável do impiedoso sol do Egito.

Tua presença é uma bênção, trazendo promessas de segurança e crescimento.
Tu não te importas com os hinos de longas folhas, plenos de louvores vãos, com os templos imponentes de estátuas douradas e com os sacerdotes que queimam custosos incensos em seu altar.
Tu estás bastante contente com a tigela humilde de leite que verto a ti, a cada manhã, e com os bolos de mel deixados em teu canto sagrado na Lua Nova.
Na maioria das vezes, tu desejas um lugar silencioso para dormir e ser deixado sozinho, enquanto cuidas de teus negócios serpentinos.
E por isso és generoso além da medida, mantendo meu lar seguro, minha família saudável, e meus armários bem abastecidos.
Não é de se surpreender que os homens te chamem de bom espírito, pois quem mais entre os Abençoados Imortais é mais gentil com os mortais do que tu?"

(do Sannion, traduzido por Alexandra Nikaios)

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Agathos Daimon, Serpentino Espírito alojado em minha despensa, a quem ofereço parte do que como e a quem verto libações após o início da Lua Nova.
Companheiro constante, que me guarda a alma por todo o meu dia, és generoso com meu lar e com minha família, e abasteces onde guardo meus haveres.
Porque és 'agathos', porque és bom, e refletes a bondade em que devo espelhar minha vida, conceda-me a continuidade de nossa amizade e mantém a prosperidade em meu lar.
Que não nos falte alimento, físico e espiritual, e que eu sempre tenha o que compartilhar contigo e com os meus.
Aquece nosso estômago e nosso coração, e, junto a Héstia, promova a união de nossa família em torno da mesa.
E que tenhamos saúde e disposição para andarmos sempre junto a ti.

(Alexandra Nikaios)

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"Dê-me toda a graça, toda a realização, porque tu é aquele que traz o bem, o espírito bom, que está ao lado de Tyche. Dê, pois, meios e realizações a esta casa, tu que dominas a esperança. Aion rico, sagrado e bom Daimon, traga a realização e incline-se a mim com todas as graças e expressões divinas. "
- PGM IV. 3125-71 (tomado de Themis, p. 296, atribuído a Esquilo).

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Obs: Hino ao daimon, não necessariamente ao Agathos Daimon.

Hino Órfico ao Daimon - LXXII

Com fumigação de incenso.
Tu, temido e poderoso governante, eu invoco, gentil Jove (Zeus), que traz a vida, e que é a fonte de tudo.
Grande Jove (Zeus), errante, terrível e forte, a quem vingança e torturas pertencem.
A humanidade, de ti, de muita riqueza abunda, quando em tuas moradas se encontra alegre, ou passa a vida aflita e angustiada, pois os meios necessários de bem-aventurança são concedidos por ti.
É teu é somente o suporte e a força ilimitada, para manter as chaves da tristeza e do deleite.
Ó divino, bendito pai, ouve a minha oração, dispersa as sementes de cuidados da vida.
Com a mente favorável, os ritos sagrados atenda, e conceda, a meus dias, um glorioso e um abençoado fim.

Retirado de Theoi

Hinário

O site RHB tem um hinário muito bom, com escritos diversos e confiáveis de hinos antigos e modernos aos Deuses.

Segue o link: https://sites.google.com/site/helenismo/Home/hinario

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Hinos a Atena

Retirado de RHB

Hino Órfico a Atena
Palas Atena, Salvadora das Cidades, começo a cantar,
Deusa temível, que com Ares concerne os trabalhos de guerra, os saques às cidades, o reboar da guerra e dos combates;
Também salva as tropas que partem e que retornam;
Salve, Deusa, dê-nos sorte e felicidade.

Hino Homérico XXVIII - A Atena
Eu canto a Palas Atena, a gloriosa Deusa, de Olhos Brilhantes, inventiva, de coração inexorável, virgem pura, salvadora das cidades, corajosa, tritogênia.
O sábio Zeus deu-lhe a luz, por Ele mesmo,
de sua temível cabeça, adornada em armamento bélico de ouro reluzente,
e o terror tomou conta de todos os Deuses assim que a fitaram.
Mas Atena surgiu rapidamente da cabeça imortal e se pôs diante de Zeus que Segura a Égide, agitando uma lança afiada.
O grande Olimpo começou a vacilar de horror, ao poder da Deusa de Olhos Brilhantes,
E a terra girou em volta dos medrosos chorosos, e o mar se moveu e se agitou com ondas escuras, enquanto a espuma se rompia repentinamente.
O brilhante Filho de Hipérion parou seus ligeiros cavalos por um longo instante,
até a donzela Palas Atena despir-se da pesada armadura sobre seus ombros imortais.
E o sábio Zeus estava contente.
E então saúdo a ti, Filha de Zeus que Segura a Égide!
Agora eu me lembrarei de ti e de outra canção também

Hino Homérico XI - A Atena (2ª versão)
Eu te saúdo, Atena, alfa e ômega dos homens,
Tu te sentas no augusto trono da Sabedoria;
Mais que punições, às ações humanas,
tu dás glórias e bençãos, como a Graça
que brilha nas tuas asas douradas.
Longa felicidade anuncia teu destino.
Tu encontraste o bom caminho, entre os infortúnios, tua luz varreu as trevas, Deusa da Graça.

Hino a Atena, de Orfeu
A Palas, com um incenso de ervas aromáticas:
Única nascida do Pai, nobre raça de Zeus, abençoada e feroz,
Que se alegra em andar pelas cavernas;
Ó Palas, guerreira, cuja ilustre gentileza inefável encontramos, magnânima e célebre;
O ápice rochoso, os bosques e montanhas sombrias se regozijam;
Com as Erínias atormentas os exércitos exultantes e selvagens,
E as almas dos mortais tu inspiras.
Virgem atlética, de mente terrível, abençoada e gentil,
Mãe das Artes, impetuosa, compreensível,
Ira para os malvados, sabedoria para os bondosos;
Fêmea e macho, as artes da guerra são tuas, ó Deusa,
Sobre os gigantes de Flegran demonstraste tua ira,
Tuas maldições dirigiste e com destruição os aterrorizaste;
Espirrada da cabeça de Zeus, de esplêndido aspecto,
Expurgadora de males, Rainha Toda-Vitoriosa.
Escuta-me, ó Deusa, quando a ti eu oro,
Com voz suplicante, tanto de noite quanto de dia,
E na minha última hora, dê-me paz e saúde,
Tempos propícios, e a prosperidade necessária;
E que todo o meu presente seja dedicado para a cura;
Ó, implorada, Mãe da Arte, Donzela dos Olhos Azuis

Hino a Atena, de Proclus
 Filha de Zeus Portador da Égide, Divina,
 Propícia a tuas preces votivas, te inclinas,
 Da fronte do Grande Pai supremamente brilhante,
 Saltaste para a luz como um fogo ressoante.
 Deusa que Porta o Escudo, ouça, a quem desfrutar
 De uma mente valorosa e com poder de o forte domar!
 Ó, surgida de um poder sem par, com alegre mente,
 Aceita este hino; gentil e benevolente!
 Por tuas mãos, os portões sagrados da Sabedoria
 São amplamente abertos; e a ousada companhia
 De Gigantes Ctônicos, que em ímpia batalha armados
 Luta com teus parentes, por teu poder foram derrotados.
 Uma vez, por teu cuidado, como cantam poetas sagrados,
 O coração de Baco, rei rapidamente assassinado,
 Foi salvo no éter, quando, com um feroz fogo,
 Os Titãs contra sua vida conspiraram logo;
 E com incansável ira e sede por sangue coagulado,
 Suas mãos e membros em pedaços foram destroçados.
 Mas, sempre atenta à vontade de teu Pai,
 Teu poder o preservou de a doença lhe abater,
 Até dos secretos conselhos de seu Pai Zeus,
 E nascer de Sêmele através do fogo dos céus,
 O Grande Dionísio ao mundo apresentado
 Novamente apareceu com ânimo renovado.
 Uma vez, também, teu machado de guerra, em inigualável hora,
 Sacou de seus pescoços selvagens as cabeças fora
 De furiosas bestas, e assim ficaram as pestes destruídas
 As quais há muito deixavam a onividente Hécate aborrecida.
 Por ti o poder do Grande Zeus se ergueu
 Para guarnecer os mortais com um deleite seu.
 E toda a largura da vida e as várias extensões dela dominas,
 Cada parte para embelezar com tuas artes divinas.
 Revigorados, portanto, por ti, encontramos
 Um demiurgo impulso na mente que levamos.
 Torres altamente erguidas, e fortes para proteção,
 A ti, temível deidade guardiã, pertencem então,
 Como símbolos próprios da altura exaltada,
 Estas séries entre os Pátios de Luz são clamadas.
 Terras amadas por ti são dispostas a aprender,
 E Atenas, ó Atena, é tua a reaver!
 Grande Deusa, ouça e, na minha mente escurecida,
 Verta tua luz pura em ilimitada medida;
 Tua sagrada luz, ó Toda-Protetora Rainha,
 Que irradia o eterno de tua face serena.
 Minha alma, enquanto vagueia pela terra, inspiras,
 Com o abençoado fogo de tua própria e impulsiva pira;
 E a teus relatos, místicos e divinos, dê
 Todos os poderes com sagrada luz resplandecer.
 Dê amor, sabedoria e um poder de amar de fato,
 Com incessante inclinação aos reinos do alto;
 Assim como, inconsciente do controle da base terrena,
 Gentilmente atrai a alma que o vício domina;
 Da região escura da noite, ajude-a a se retirar,
 E, mais uma vez, conquiste o palácio de seu lar.
 E, se em mim vier alguns infortúnios causticantes,
 Remova a aflição, e abençoa esse teu suplicante.
 Deusa Que Tudo Salva, às minhas preces te inclines!
 Nem deixai essas hórridas punições serem minhas
 As quais culpadas almas no Tártaro confinam,
 Com grilhões atados a seus solos infernais,
 E presos pelas enormes portas de ferro nos umbrais.
 Ouça-me, e salva (pois o poder é todo teu aqui)
 Esta alma desejosa de pertencer somente a ti.
(tradução e rimas de Alexandra a partir do inglês de Thomas Taylor)

OBS:
Aqui há alguns hinos modernos
Aqui tem o Hino ao Banho de Palas (Atena)

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Hinos a Hécate

Palavras de Hécate
Retirado de Mystic Moon Crow

Eu sou a Deusa Escura, eu sou Hécate.
Eu sou a Escuridão que está atrás e abaixo das de todas as Sombras.
Eu sou a ausência de ar que está no fundo de cada respiração.
Eu sou o Final antes que a Vida comece outra vez.

Donzela, Mãe, Anciã... Eu sou todas essas e muito mais.
Sempre que precisar de alguma coisa, chame-me.
Eu estou aqui...
Porque eu vivo dentro de todos.
Mesmo no mais escuro dos tempos, 
quando parece que não há uma única faísca para aquecê-lo 
e a noite parece mais escura, 
estou aqui ...
Observando e aguardando para crescer, dentro de você, 
em Força e em Amor.

Venha a mim e veja o que não pode ser visto
e enfrente o terror que é seu somente.
Nade até mim através dos Oceanos mais escuros,
até o centro de seus maiores medos.
Vou mantê-lo seguro.
Grite para mim em terror 
e seu será o Poder de Forbear. 

Busque-me dentro e fora e você será forte.
Me conheça.
Se aventure na escuridão, para que assim você possa se despertar 
em Equilíbrio, Iluminação e Completude.
Leve meu amor com você em todos os lugares.
E encontre o Poder Interior,
para ser quem você deseja ser.
Pois eu sou aquela que está no início de tudo e no final de todos os tempos.

Obs: Eu gosto de usar esse texto mas como uma oração, assim sendo, eu troco a pessoa do texto, de Hécate me falando para eu falando a Ela.
Obs 2: Forbear: evitar fazer coisas, fortalecendo especialmente o controle, o bom julgamento e a bondade.

Hino Órfico a Hécate

Hécate dos Caminhos, eu a invoco, amável Senhora das Encruzilhadas Trívias,
celestial, do Mundo Inferior e marinha, Senhora do manto cor de açafrão.
Sepulcral, que celebra os Mistérios de Baco entre a alma dos mortos.
Filha de Perses, amante da solidão, que se alegra em cervos.
Noturna, Senhora dos cães, Rainha invencível.
Aquela por quem as bestas uivam, desarmada, que tem forma irresistível.
Pastora de touros, guardiã das chaves de todo o Universo, mestre, guia, donzela, nutriz de jovens, andarilha das montanhas.
Suplico, Donzela, que esteja presente nestes ritos sagrados, sempre concedendo a sua graça.

Clique aqui para ver o vídeo do hino em grego, cantado pela Álex, com melodia de Melissa G. (fonte: site RHB )

Retirados de: Hermetic Fellowship
Em grego: 

Einodian Hekatên, klêizô, Trihoditin Erannên,
Ouranian, Chthonian, te kai Einalian, Krokopeplos.
Tymbidian, Psychais Nekyôn meta bakcheuosan,
Perseian, Philerêmon, agallomenên elaphoisi.
Nykterian, Skylakitin, amaimaketon Basileian.
Thêrobromon, Azôston, aprosmachon Eidos echousan.
Tauropolon, Pantos Kosmou Klêidouchon, Anassan,
Hêgemonên, Nymphên, Kourotrophon, Ouresiphoitin.
Lissomenos, Kourên, teletais hosiaisi pareinai,
Boukolôi eumeneousan aei kecharêoti thymôi.

Hino a Hécate (Teogonia, vv.404-452)
Retirado de RHB

Febe entrou no amoroso leito de Coios e fecundou a Deusa, o Deus, em amor,
Ela gerou Leto de negro véu, a sempre doce, boa aos homens e aos Deuses Imortais, doce desde o começo, a mais suave no Olimpo.
Gerou Astéria de propício nome, que Perses conduziu um dia a seu palácio e desposou, e fecundada, pariu Hécate, a quem mais Zeus Cronida honrou e concedeu esplêndidos dons, parte na terra e no mar infecundo.
Ela também do Céu Constelado partilhou a honra e é muito honrada entre os Deuses imortais.
Hoje ainda, se algum homem sobre a terra, com belos sacrifícios conforme os ritos propicia e invoca Hécate, muita honra o acompanha facilmente, quem a Deusa propensa acolhe a prece.
De todos que nasceram da Terra e do Céu e que receberam honra, de todos obteve um lote; nem o Cronida violou, nem a despojou do que Ela recebeu entre os antigos Deuses Titãs, e Ela tem como primeiro no começo, quando houve a partilha.
Nem porque Filha Única menos partilhou de honra e de privilégio na terra, no céu e no mar, mas ainda mais, porque honra-a Zeus.
A quem quer, grandemente dá auxílio e ajuda, no tribunal senta-se junto aos reis venerandos, na assembléia, entre o povo, distingue a quem quer. É quando se armam para o combate homicida, os homens, aí a Deusa assiste a quem quer e propícia, concede vitória e oferece-lhe glória.
Diligente quando os homens lutam nos jogos, aí também a Deusa dá auxílio e ajuda, e vencendo pela força e vigor, leva belo prêmio facilmente, com alegria, e aos pais dá a glória.
Diligente entre os cavaleiros, assiste a quem quer, e aos que lavram o mar de ínvios caminhos e suplicam a Hécate e ao troante Treme-Terra, fácil, a gloriosa Deusa concede muita pesca ou surge e arranca-a, se o quer no seu ânimo.
Diligente no estábulo, com Hermes aumenta o rebanho de bois e a larga tropa de cabras e a de ovelhas lanosas, se o quer no seu ânimo, de pouco avoluma-os e de muitos faz menores.
Assim, apesar de ser a Única Filha de sua Mãe, entre Imortais é honrada com todos os privilégios.
O Cronida a fez Nutriz de Jovens que, depois dela, com os olhos viram a luz da multividente Aurora.
Assim desde o começo é Nutriz de Jovens e estas as honras.  


Hino de Proclus a Hécate e Janus.


Retirado de Olympianismos

Salve, Mãe dos Deuses, de muitos nomes,
cujos filhos são justos.
Salve, poderosa Hécate, Senhora do Limiar.
E salve também, antepassado Janus e Zeus imperecível.
Salve Zeus, o mais poderoso.
Guie o curso de minha vida com sua luz luminosa,
e a torne carregada com coisas boas.
Conduza a doença e o mal para longe de meu corpo.
E quando minha alma se enfurecer com coisas mundanas,
purifique-me com seus rituais que mexem na alma.
Sim, dê-me sua mão, eu rezo,
e revela-me os caminhos da orientação divina que desejo.
Então, eu olharei para aquela preciosa luz,
com a qual eu posso fugir do mal de nossa origem escura.
Sim, dê-me sua mão, eu rezo,
e quando estiver cansado, leva-me para o refúgio de piedade com os seus ventos.
Salve, Mãe dos Deuses, de muitos nomes, cujos filhos são justos.
Salve, poderosa Hécate, Senhora do Limiar.
E salve também, antepassado Janus e Zeus imperecível.
Salve Zeus, o mais poderoso.

Insights sobre Atena

Estava a realizar meu ritual a Atena, ao terceiro dia do mês, quando Ela me abençoou com um insight sobre a disputa entre Atena e Poseidon por Atenas, na qual Ela cria a primeira oliveira.

A oliveira foi um presente produtivo a Atenas, não somente bonito, foi algo que alimenta e que fortalece o seu povo, assim como as bençãos de Atena, tem um significado por trás, um significado de fortalecimento e de desenvolvimento do povo e da civilização. O que se opõe ao que Poseidon produziu, uma fonte de água salgada, que demarcava o domínio dele, porém não produzia nada pela cidade. Atena é assim, suas bençãos não são vazias e para Ela tudo tem um propósito de desenvolvimento, nunca se baseando na vaidade ou em coisas bonitas porém vazias de um propósito maior.

Outro insight que tive nesse ritual é que preciso trazer Atena para o meu dia a dia, às vezes tenho uma visão dela muito Olimpiana e distante das minhas coisas mundanas. No entanto, Ela é a Deusa que me permite enxergar a minha própria górgona e vencer a vaidade (leia esse texto aqui), a Deusa da racionalidade que pode me permitir organizar a minha vida e fazê-la melhor. Assim sendo, Ela tem muitos aspectos a me auxiliar no desenvolvimento, mesmo nas coisas mais cotidianas.
Que eu possa me aproximar cada vez mais de suas Graças!

domingo, 29 de janeiro de 2017

Hécate fala

Esses são alguns texto muito bons retirados do livro A Magia de Hécate (já falei dele aqui no blog), em que Hécate fala a seu seguidor.





quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Hécate e os Oráculos Caldeus

Estava pesquisando a relação de Hécate e os Oráculos Caldeus, um tipo de culto realizado já em período romano e com influência dos escritos de NeoPlatonistas.

Nos mitos, Hécate é aquela que vive e conecta as duas Divindade, que são os Pais.
Ela liga as Idéias das Coisas (Primeiro Pai) ao Mundo Material (Segundo Pai).
Hécate é o Útero do qual tudo nasce, tanto os mundos, como as almas. Ela tem o seu papel de Senhora do Limiar muito forte, uma vez que Ela é o que liga as duas outras Divindades e permite com que tudo possa se criar. Ela vive no Limiar do Cosmos e é aquela por onde tudo se cria.
Nesse culto ela tem status de Grande Mãe.

Alguns links para se pesquisar mais:

Archetypical Witchcraft

The Melammu Project

É interessante, para qualquer seguidor de Hécate, o conhecimento de como a Deusa foi cultuada através da História.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

The passwords to the Afterlife

The oldest known image that survives today of the Goddess Hekate is in fact a small 20cm high terracotta statue dating to the 6th century BCE. This image depicts Hekate crowned and enthroned in a pose which is similar to that of the Goddess Kybele, with whom Hekate shared the title of Brimo (meaning ‘angry’ or ‘terrifying’). The name of Brimo is particularly significant, being one that has been found recorded on Orphic Funeral Tablets as a password to be spoken by the initiate on death at the gates of the underworld (where Hekate holds the keys) to gain safe entry. This password was combined with the Orphic Oath of “I am a child of earth and starry heaven, but my race is of heaven alone,” which is also particularly appropriate in the context of Hekate, daughter of the stellar Goddess Asteria.

From: Hecate Covenant

Hécate no Mistério de Elêusis

O Mistério de Elêusis é um culto fechado, em que você precisava ser um iniciado, que ocorria na Grécia, na cidade de Elêusis, a 15 quilômetros de Atenas. O Mistério tinha como base a história do Rapto de Perséfone, e ele garantiria uma melhor vida após a morte para os seus iniciados. As principais divindades desse culto eram Perséfone (que vai ao Mundo Inferior e retorna), Deméter (a mãe, Senhora da Fertilidade, que durante o tempo que sua filha passa no Mundo Inferior, não permite que a terra produza nada, ou seja, o inverno) e Hécate (Deusa que guia Pérsefone em sua jornada ao Mundo Inferior e em sua volta ao Mundo dos Vivos).

O mito do Rapto de Perséfone é a explicação grega para as estações do ano, mas nos Mistérios de Elêusis, ele é utilizado para uma rituais que representam a Vida, a Morte e o Renascimento.

Nesse sentido, Hécate, que no mito e nos Mistérios tem um forte papel de Guia, é aquela que permite a decida ao Mundo Inferior, não só de Perséfone, mas também dos iniciados, para que eles possam encarar seus medos, aquilo que eles não querem ver, para que possam enxergar os segredos que permeiam a Vida, a Morte e principalmente o Renascimento. Hécate é aquela guia as almas pelos Mundos Escuros, aquela que permite que cada um encontre sua sombra, e que desses encontros e jornadas, possam se tornar pessoas mais iluminadas e conscientes. Ela é a Portadora das Tochas, que Iluminam os Caminhos e que guia pelo os momentos mais escuros. Sua Luz é aquilo que Renovam as Esperanças, quando a Noite parece mais escura, sua presença faz que a força para continuar cresça dentro de cada pessoa.

Aqui estão alguns links que achei interessantes para aprender mais sobre o Mistério de Elêusis.

The ritual path os initiation into the Eleusinian Mysteries (onde o autor dá detalhes da cerimônias realizadas para a iniciação)

Academy Sacred Geometry

Dave Fredrick's Summary of the Eleusinian Mysteries.






As divindades femininas: No princípio, eram as Deusas

Retirado de Revista Super Interessante

As divindades femininas: No princípio, eram as Deusas

  • Nos quatro cantos do mundo, as primeiras divindades eram mulheres: Pótnia, Astarte, Ísis, Amaterazu, Nu Gua. Nas antigas sociedades, elas representavam o começo e o fim de tudo. Hoje, ajudam a entender o passado remoto dos homens.

  • Por Da Redação
  • 31 jul 1988, 22h00- Atualizado em 31 out 2016, 18h54
Maria Inês Zanchetta
Em Çatal Huyuk, na Turquia, a estatueta de uma mulher sentada num trono e ladeada por duas panteras, em cujas cabeças ela coloca as mãos, sugere ao mesmo tempo a imagem da mãe e da senhora da natureza. Suas formas generosas — quadris largos e seios grandes— reforçam ainda mais essa ideia. O nome da figura feminina é Pótnia, a Deusa de Çatal Huyuk, a mais antiga cidade que se conhece do período Neolítico, cerca de 10 mil anos atrás. De Pótnia nasceram outras divindades femininas também adoradas pelos homens pré-históricos. Sua estatueta, esculpida por volta de 6500 a.C., foi uma das muitas encontradas na Europa e no Oriente Médio, algumas mais antigas, do Paleolítico Superior (de 50 mil a 10 mil anos atrás).
Essas descobertas levaram historiadores e arqueólogos a sugerir que, bem antes de venerar Deuses masculinos, os antepassados do homem teriam adorado as Deusas, cujo reinado chegou até a Idade do Bronze, há cerca de 5 mil anos. Não se sabe a rigor o exato significado daquelas estatuetas, até porque pouco ou quase nada se conhece dos costumes dos homens pré-históricos. Mas não resta dúvida de que por um bom tempo as Deusas reinaram sozinhas, deixando os poderes masculinos à sombra. Em seu livro "Um é o outro", a filósofa e professora francesa Elisabeth Badinter tenta explicar a supremacia feminina a partir do que se supõe teriam sido as relações entre homens e mulheres naquelas épocas distantes.
A ideia é que o homem do Neolítico—ao contrário dos seus antecessores do Paleolítico, que eram caçadores, e dos seus descendentes da Idade do Bronze, guerreiros— dedicava-se à criação de rebanhos e à agricultura. Ou seja, já não era necessário arriscar a vida para sobreviver. Nesses tempos relativamente pacíficos, em que a força bruta não contava tanto como fator de prestígio e as diferenças sociais entre os sexos se estreitavam, é bem possível que Deusas—e não Deuses—tivessem encarnado as principais virtudes da cultura neolítica.
Entre as centenas de estatuetas encontradas, algumas têm em comum os seios fartos e os quadris volumosos como Pótnia. Talvez a mais famosa seja a Vênus de Willendorf, encontrada às margens do rio Danúbio, na Europa Central. Nela, os seios, as nádegas e o ventre formam uma massa compacta, de onde emergem a cabeça e as pernas — na verdade, pequenos tocos. Igualmente reveladora é a Vênus de Lespugne, descoberta na França: embora mais estilizada, guarda as mesmas características de sua irmã de Willendorf.
Mas, das esculturas pré-históricas encontradas até hoje, são raras as que apresentam os traços femininos tão exagerados — o que dá margem a um debate sobre o que significava afinal a figura feminina (devidamente divinizada) nos primórdios das sociedades humanas. Os historiadores tendem a achar que os primeiros homens a viverem em grupos organizados davam mais importância à sexualidade feminina do que à fertilidade, embora não seja nada fácil separar uma coisa da outra. No entanto, a imagem à qual acabaram associadas foi a da maternidade. Há quem não concorde. “Traduzir o culto dos ancestrais às Deusas como simples exaltação à fertilidade é simplificar demais”, comenta a historiadora e antropóloga Norma Telles, da PUC de São Paulo, que estuda mitologia praticamente desde criança. “Na realidade, a Deusa não é aquela que só gera. Ela é também guerreira, doadora das artes da civilização, criadora do Céu, do tecido e da cerâmica, entre muitas outras coisas.”
De fato, em muitos mitos, a Deusa aparece como quem dá o grão aos homens, e não apenas no sentido literal de nutrição. Assim, por exemplo, Deméter, venerada pelos gregos como a Deusa da colheita, ajudava a cultivar a terra — arar, semear, colher e transformar os grãos em farinha e depois em pão. Deméter ensinava ainda os homens a atrelar as animais e a se organizar. Os gregos explicaram a origem do mundo com outro mito feminino: o da Deusa Gaia. Doadora da sabedoria aos homens, ela limitou o Caos—o espaço infinito—e criou um ser igual a ela própria: Urano, o céu estrelado.
Pouco depois, Eros, símbolo do amor universal, fez com que Gaia e Urano se unissem. Desse casamento nasceram muitos filhos e, assim, a Terra foi povoada. A crença de que o Universo foi criado por uma divindade feminina está presente em quase toda parte.
Ísis, a mais antiga Deusa do Egito, tinha dado a luz ao Sol. Na Índia, Aditi era a Deusa-Mãe de tudo que existe no céu. Na Mesopotâmia, Astarte, uma das mais cultuadas Deusas do Oriente Médio, era a verdadeira Soberana do Mundo, que eliminava o velho e gerava o novo. Essa idéia aparece com clareza nas efígies datadas de 2 300 a.C., que mostram Astarte sentada sobre um cadáver. Também para os chineses foi uma Deusa—Nu Gua — quem criou a humanidade. Seu culto apareceu durante o período da dinastia Han (202 a.C.-220 d.C.). Representada com cabeça de mulher e corpo de serpente, a venerável Nu Gua encarnava a ordem e a tranqüilidade.
Os chineses dizem que, cavando barro do chão, ela moldou uma figura que, para sua surpresa, ganhou vida e movimento próprio. Entusiasmada, a Deusa continuou a moldar figuras, mas a natureza mortal de suas criaturas a obrigava a repetir eternamente o trabalho. Por isso, Nu Gua decidiu que os seres deviam se acasalar para se perpetuarem—daí também ela ser considerada pelos antigos chineses a Deusa do casamento. Do outro lado do mundo, na América pré–colombiana, os astecas tinham em Tlauteutli sua Deusa da Criação. Para eles, o Universo fora feito de seu corpo. Os maias tinham igualmente sua Deusa-Mãe. Era Ix Chel. De sua união com o Deus Itzamná nasceram os outros Deuses e os homens.
Com o passar do tempo, Deuses e homens passaram a dividir com as Deusas o espaço no Panteão, o lugar reservado às divindades. Para Elisabeth Badinter, isso acontece quando a noção de casal vai deitando raízes nas sociedades. Pouco a pouco, da Europa Ocidental ao Oriente, “reconhece-se que é preciso ser dois para procriar e produzir”, escreve ela. Mas o culto à Deusa–Mãe ainda não é substituído pelo do Deus–Pai. O casal divino passa a ser venerado em conjunto. As Deusas só serão destronadas com o advento das religiões monoteístas, que admitem um só Deus, o masculino. Com a difusão do cristianismo, as antigas Deusas são banidas do imaginário popular.
No Ocidente, algumas acabaram associadas à Virgem Maria, mãe do Deus dos cristãos, outras se transformaram em santas. Mas outras ou foram excluídas da história ou acusadas pelos padres de demônios e prostitutas. As Deusas das culturas indo-européias tinham em comum o poder de criar, preservar e destruir—davam a vida e recebiam de volta o que se desfazia. Esse aspecto destrutivo das divindades femininas foi o mais atacado pelos inimigos do politeísmo. A suméria Astarte, por exemplo, não escaparia à ira nem dos profetas bíblicos nem dos primeiros cristãos: para uns e outros, ela era a encarnação do diabo.
No império babilônico, Astarte foi venerada sob o nome de Ishtar, que quer dizer estrela. Nos escritos babilônicos, Ela é a Luz do mundo, a que abre o ventre, faz justiça, dá a força e perdoa. A Bíblia, porém, a descreveria como uma acabada prostituta. A importância dada ao lado violento, destrutivo, talvez explique por que a Deusa hindu Kali Ma aparece no filme de Steven Spielberg, O templo da perdição, como a encarnação da violência. Ela é a sanguinária figura em nome da qual se matam e torturam adultos e se escravizam crianças.
No entanto, para os hindus, mais especialmente para os tantras — adeptos de uma derivação do hinduísmo —, Kali é a Deusa da transformação e nesse sentido mais filosófico é que ela é destruidora, da mesma forma como a passagem do tempo destrói. Representada como uma mulher negra com quatro braços e uma serpente na cintura, pode aparecer também com um colar de crânios no colo e uma cabeça em cada mão.
Em seus templos, espalhados por toda a Índia, realizavam-se sacrifícios de búfalos e cabras. “Para os orientais, Kali é a desintegração contida na vida, visão essa que nós ocidentais não temos”, interpreta a antropóloga Norma Telles. Se Kali foi vista como Deusa sanguinária, outras divindades compensavam tanta violência. Sarasvati, a Deusa dos rios, era para os hindus a inventora de todas as artes da civilização, como o calendário, a Matemática, o alfabeto original e até os Vedas, o texto sagrado do hinduísmo.
Também na América pré-colombiana, sobretudo entre os astecas, o culto às Deusas e Deuses incluía muitas vezes sacrifícios humanos. A Deusa Tlauteutli é um bom exemplo. Um dia, os Deuses descobriram que ela ficaria estéril, a menos que fosse alimentada de corações humanos. Na verdade, os astecas tinham uma visão apocalíptica do mundo: se não alimentassem a Deusa, a Terra se acabaria.
Mas, à medida que começava a crescer o culto à Deusa da maternidade, Tonantzin, diminuía o interesse dos astecas pelos Deuses aos quais se faziam sacrifícios sangrentos. Mais tarde, com a chegada dos conquistadores espanhóis, Tonantzin foi identificada com a Virgem Maria. Isso acabaria acontecendo também com a Deusa Ísis. Cultuada no Egito e no mundo greco–romano, ela representava a energia transformadora. Casada com o Deus Osíris, morto pelo próprio irmão, Ísis não sossegou enquanto não lhe restituiu a vida. A lenda conta que as enchentes do Nilo eram causadas pelas lágrimas da Deusa que pranteava a morte do amado. Por isso, as festas em sua homenagem coincidiam sempre com a época das cheias. É evidente que, ao festejá-la, os egípcios comemoravam a generosa fertilidade do rio Nilo. Nos primeiros séculos cristãos, Ísis passou a ser identificada com Maria.
Já a Deusa Brighid, cultuada pelos celtas, ancestrais dos irlandeses, foi transformada pelo cristianismo em Santa Brigida. A veneração daquele povo por Brighid era tanta que ela era chamada simplesmente “a Deusa”. Dona das palavras e da poesia, era também a padroeira da cura, do artesanato e do conhecimento. As festas em sua homenagem se davam no dia 1º de fevereiro, antecipando a chegada da primavera. Na história cristã, a santa nasceu no pôr-do-sol, nem dentro nem fora de uma casa, e foi alimentada por uma vaca branca com manchas vermelhas. Na tradição irlandesa, a vaca era considerada sobrenatural.
Antes mesmo da chegada das religiões monoteístas, os mitos dizem que o convívio entre Deuses e Deusas começou a se tornar difícil e a igualdade dos poderes divinos começava a ficar abalada. Assim, por exemplo, Amaterazu, a Deusa japonesa do Sol, de quem descendiam os imperadores, não se dava muito bem com o Deus da Tempestade. Conta a lenda que certo dia ele foi visitar os domínios da Deusa e acabou por destruir seus campos de arroz. Furiosa, Amaterazu resolveu vingar-se trancando-se numa caverna — o que deixou o mundo às escuras. Depois de um tempo, como ela não saía da caverna, uma multidão de Deusas e de Deuses menores decidiu armar uma estratégia para convencê-la a mudar de ideia. Assim, colocaram diante da caverna um espelho que refletia a imagem do Deus da Tempestade, como se ele estivesse enforcado numa árvore, e começaram a dançar.
Atraída pela música, a Deusa decidiu sair para ver o que acontecia. Ao deparar com a imagem no espelho ficou feliz e voltou ao mundo. Com isso, tudo se normalizou e os dias continuaram a suceder às noites. Outro exemplo dos conflitos entre as divindades é o caso da Deusa grega Deméter e Hades, o Deus do Mundo dos Mortos. Eles começaram a brigar pela guarda de Perséfone e a questão só foi resolvida com a mediação de Zeus, o Deus Supremo do Olimpo. Salomonicamente, Ele determinou que a menina ficasse com cada um durante partes do ano. Das Deusas veneradas no Mundo Antigo, não houve tantas nem tão famosas como as da mitologia greco–romana. Afrodite (Vênus, em Roma) talvez fosse a mais popular de todas, por encarnar o Amor e as formas belas da natureza.
Já Ártemis (Diana) era a Caçadora Solitária, Senhora dos Bosques e dos Animais. Seus lugares preferidos eram sempre aqueles onde o homem ainda não tinha chegado. Atena (Minerva) protegia a cidade, as casas e as famílias. O predomínio que as divindades femininas exerceram ao longo do tempo levou alguns pesquisadores do século XIX a supor que na pré-história as mulheres detiveram alguma forma de autoridade política. Não há registros arqueológicos que confirmem isso — hoje os especialistas não admitem que tenha existido alguma sociedade cujo controle estivesse com as mulheres. Mas também é certo que nos tempos pré-históricos, quando era outra a divisão social do trabalho, as mulheres tinham um papel preponderante na luta pela sobrevivência do grupo. É impossível saber com exatidão quando e por que deixou de ser assim. De uma coisa, porém, não se duvida: foram os homens quem primeiro traçaram a mitologia das Deusas.
A primeira mulher de Adão
Segundo uma antiga lenda, a primeira companheira de Adão não foi Eva, mas uma Deusa chamada Lilith—”monstro da noite”, para os antigos hebreus—que brigou com Deus e por isso foi transformada em demônio. Na verdade, o castigo maior que Ihe impuseram os sacerdotes foi excluí-la dos relatos bíblicos da criação do mundo. Lilith, versão hebraica de uma divindade babilônica, sinônimo de “face escura da Lua”, não se dava bem com Adão. Certo dia, cansada de desavenças, Lilith abandonou o marido e foi para o mar Vermelho, onde passou a viver entre demônios, com quem teve vários filhos.
Inconformado, Adão foi pedir a interferência de Deus. Este determinou então que Lilith voltasse imediatamente para casa. Mas ela recusou-se e foi condenada a devorar todos os seus filhos. Não bastasse, passou a ser considerada um demônio igual a outras Deuses do Mundo das Trevas. Por tudo isso, no folclore judaico, cada vez que morria uma criança, dizia-se que Lilith a tinha levado. A lenda de Lilith perdurou entre os judeus pelo menos até o século VII.