terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Hinos a Hécate

Palavras de Hécate
Retirado de Mystic Moon Crow

Eu sou a Deusa Escura, eu sou Hécate.
Eu sou a Escuridão que está atrás e abaixo das de todas as Sombras.
Eu sou a ausência de ar que está no fundo de cada respiração.
Eu sou o Final antes que a Vida comece outra vez.

Donzela, Mãe, Anciã... Eu sou todas essas e muito mais.
Sempre que precisar de alguma coisa, chame-me.
Eu estou aqui...
Porque eu vivo dentro de todos.
Mesmo no mais escuro dos tempos, 
quando parece que não há uma única faísca para aquecê-lo 
e a noite parece mais escura, 
estou aqui ...
Observando e aguardando para crescer, dentro de você, 
em Força e em Amor.

Venha a mim e veja o que não pode ser visto
e enfrente o terror que é seu somente.
Nade até mim através dos Oceanos mais escuros,
até o centro de seus maiores medos.
Vou mantê-lo seguro.
Grite para mim em terror 
e seu será o Poder de Forbear. 

Busque-me dentro e fora e você será forte.
Me conheça.
Se aventure na escuridão, para que assim você possa se despertar 
em Equilíbrio, Iluminação e Completude.
Leve meu amor com você em todos os lugares.
E encontre o Poder Interior,
para ser quem você deseja ser.
Pois eu sou aquela que está no início de tudo e no final de todos os tempos.

Obs: Eu gosto de usar esse texto mas como uma oração, assim sendo, eu troco a pessoa do texto, de Hécate me falando para eu falando a Ela.
Obs 2: Forbear: evitar fazer coisas, fortalecendo especialmente o controle, o bom julgamento e a bondade.

Hino Órfico a Hécate

Hécate dos Caminhos, eu a invoco, amável Senhora das Encruzilhadas Trívias,
celestial, do Mundo Inferior e marinha, Senhora do manto cor de açafrão.
Sepulcral, que celebra os Mistérios de Baco entre a alma dos mortos.
Filha de Perses, amante da solidão, que se alegra em cervos.
Noturna, Senhora dos cães, Rainha invencível.
Aquela por quem as bestas uivam, desarmada, que tem forma irresistível.
Pastora de touros, guardiã das chaves de todo o Universo, mestre, guia, donzela, nutriz de jovens, andarilha das montanhas.
Suplico, Donzela, que esteja presente nestes ritos sagrados, sempre concedendo a sua graça.

Clique aqui para ver o vídeo do hino em grego, cantado pela Álex, com melodia de Melissa G. (fonte: site RHB )

Retirados de: Hermetic Fellowship
Em grego: 

Einodian Hekatên, klêizô, Trihoditin Erannên,
Ouranian, Chthonian, te kai Einalian, Krokopeplos.
Tymbidian, Psychais Nekyôn meta bakcheuosan,
Perseian, Philerêmon, agallomenên elaphoisi.
Nykterian, Skylakitin, amaimaketon Basileian.
Thêrobromon, Azôston, aprosmachon Eidos echousan.
Tauropolon, Pantos Kosmou Klêidouchon, Anassan,
Hêgemonên, Nymphên, Kourotrophon, Ouresiphoitin.
Lissomenos, Kourên, teletais hosiaisi pareinai,
Boukolôi eumeneousan aei kecharêoti thymôi.

Hino a Hécate (Teogonia, vv.404-452)
Retirado de RHB

Febe entrou no amoroso leito de Coios e fecundou a Deusa, o Deus, em amor,
Ela gerou Leto de negro véu, a sempre doce, boa aos homens e aos Deuses Imortais, doce desde o começo, a mais suave no Olimpo.
Gerou Astéria de propício nome, que Perses conduziu um dia a seu palácio e desposou, e fecundada, pariu Hécate, a quem mais Zeus Cronida honrou e concedeu esplêndidos dons, parte na terra e no mar infecundo.
Ela também do Céu Constelado partilhou a honra e é muito honrada entre os Deuses imortais.
Hoje ainda, se algum homem sobre a terra, com belos sacrifícios conforme os ritos propicia e invoca Hécate, muita honra o acompanha facilmente, quem a Deusa propensa acolhe a prece.
De todos que nasceram da Terra e do Céu e que receberam honra, de todos obteve um lote; nem o Cronida violou, nem a despojou do que Ela recebeu entre os antigos Deuses Titãs, e Ela tem como primeiro no começo, quando houve a partilha.
Nem porque Filha Única menos partilhou de honra e de privilégio na terra, no céu e no mar, mas ainda mais, porque honra-a Zeus.
A quem quer, grandemente dá auxílio e ajuda, no tribunal senta-se junto aos reis venerandos, na assembléia, entre o povo, distingue a quem quer. É quando se armam para o combate homicida, os homens, aí a Deusa assiste a quem quer e propícia, concede vitória e oferece-lhe glória.
Diligente quando os homens lutam nos jogos, aí também a Deusa dá auxílio e ajuda, e vencendo pela força e vigor, leva belo prêmio facilmente, com alegria, e aos pais dá a glória.
Diligente entre os cavaleiros, assiste a quem quer, e aos que lavram o mar de ínvios caminhos e suplicam a Hécate e ao troante Treme-Terra, fácil, a gloriosa Deusa concede muita pesca ou surge e arranca-a, se o quer no seu ânimo.
Diligente no estábulo, com Hermes aumenta o rebanho de bois e a larga tropa de cabras e a de ovelhas lanosas, se o quer no seu ânimo, de pouco avoluma-os e de muitos faz menores.
Assim, apesar de ser a Única Filha de sua Mãe, entre Imortais é honrada com todos os privilégios.
O Cronida a fez Nutriz de Jovens que, depois dela, com os olhos viram a luz da multividente Aurora.
Assim desde o começo é Nutriz de Jovens e estas as honras.  


Hino de Proclus a Hécate e Janus.


Retirado de Olympianismos

Salve, Mãe dos Deuses, de muitos nomes,
cujos filhos são justos.
Salve, poderosa Hécate, Senhora do Limiar.
E salve também, antepassado Janus e Zeus imperecível.
Salve Zeus, o mais poderoso.
Guie o curso de minha vida com sua luz luminosa,
e a torne carregada com coisas boas.
Conduza a doença e o mal para longe de meu corpo.
E quando minha alma se enfurecer com coisas mundanas,
purifique-me com seus rituais que mexem na alma.
Sim, dê-me sua mão, eu rezo,
e revela-me os caminhos da orientação divina que desejo.
Então, eu olharei para aquela preciosa luz,
com a qual eu posso fugir do mal de nossa origem escura.
Sim, dê-me sua mão, eu rezo,
e quando estiver cansado, leva-me para o refúgio de piedade com os seus ventos.
Salve, Mãe dos Deuses, de muitos nomes, cujos filhos são justos.
Salve, poderosa Hécate, Senhora do Limiar.
E salve também, antepassado Janus e Zeus imperecível.
Salve Zeus, o mais poderoso.

Insights sobre Atena

Estava a realizar meu ritual a Atena, ao terceiro dia do mês, quando Ela me abençoou com um insight sobre a disputa entre Atena e Poseidon por Atenas, na qual Ela cria a primeira oliveira.

A oliveira foi um presente produtivo a Atenas, não somente bonito, foi algo que alimenta e que fortalece o seu povo, assim como as bençãos de Atena, tem um significado por trás, um significado de fortalecimento e de desenvolvimento do povo e da civilização. O que se opõe ao que Poseidon produziu, uma fonte de água salgada, que demarcava o domínio dele, porém não produzia nada pela cidade. Atena é assim, suas bençãos não são vazias e para Ela tudo tem um propósito de desenvolvimento, nunca se baseando na vaidade ou em coisas bonitas porém vazias de um propósito maior.

Outro insight que tive nesse ritual é que preciso trazer Atena para o meu dia a dia, às vezes tenho uma visão dela muito Olimpiana e distante das minhas coisas mundanas. No entanto, Ela é a Deusa que me permite enxergar a minha própria górgona e vencer a vaidade (leia esse texto aqui), a Deusa da racionalidade que pode me permitir organizar a minha vida e fazê-la melhor. Assim sendo, Ela tem muitos aspectos a me auxiliar no desenvolvimento, mesmo nas coisas mais cotidianas.
Que eu possa me aproximar cada vez mais de suas Graças!

domingo, 29 de janeiro de 2017

Hécate fala

Esses são alguns texto muito bons retirados do livro A Magia de Hécate (já falei dele aqui no blog), em que Hécate fala a seu seguidor.





quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Hécate e os Oráculos Caldeus

Estava pesquisando a relação de Hécate e os Oráculos Caldeus, um tipo de culto realizado já em período romano e com influência dos escritos de NeoPlatonistas.

Nos mitos, Hécate é aquela que vive e conecta as duas Divindade, que são os Pais.
Ela liga as Idéias das Coisas (Primeiro Pai) ao Mundo Material (Segundo Pai).
Hécate é o Útero do qual tudo nasce, tanto os mundos, como as almas. Ela tem o seu papel de Senhora do Limiar muito forte, uma vez que Ela é o que liga as duas outras Divindades e permite com que tudo possa se criar. Ela vive no Limiar do Cosmos e é aquela por onde tudo se cria.
Nesse culto ela tem status de Grande Mãe.

Alguns links para se pesquisar mais:

Archetypical Witchcraft

The Melammu Project

É interessante, para qualquer seguidor de Hécate, o conhecimento de como a Deusa foi cultuada através da História.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

The passwords to the Afterlife

The oldest known image that survives today of the Goddess Hekate is in fact a small 20cm high terracotta statue dating to the 6th century BCE. This image depicts Hekate crowned and enthroned in a pose which is similar to that of the Goddess Kybele, with whom Hekate shared the title of Brimo (meaning ‘angry’ or ‘terrifying’). The name of Brimo is particularly significant, being one that has been found recorded on Orphic Funeral Tablets as a password to be spoken by the initiate on death at the gates of the underworld (where Hekate holds the keys) to gain safe entry. This password was combined with the Orphic Oath of “I am a child of earth and starry heaven, but my race is of heaven alone,” which is also particularly appropriate in the context of Hekate, daughter of the stellar Goddess Asteria.

From: Hecate Covenant

Hécate no Mistério de Elêusis

O Mistério de Elêusis é um culto fechado, em que você precisava ser um iniciado, que ocorria na Grécia, na cidade de Elêusis, a 15 quilômetros de Atenas. O Mistério tinha como base a história do Rapto de Perséfone, e ele garantiria uma melhor vida após a morte para os seus iniciados. As principais divindades desse culto eram Perséfone (que vai ao Mundo Inferior e retorna), Deméter (a mãe, Senhora da Fertilidade, que durante o tempo que sua filha passa no Mundo Inferior, não permite que a terra produza nada, ou seja, o inverno) e Hécate (Deusa que guia Pérsefone em sua jornada ao Mundo Inferior e em sua volta ao Mundo dos Vivos).

O mito do Rapto de Perséfone é a explicação grega para as estações do ano, mas nos Mistérios de Elêusis, ele é utilizado para uma rituais que representam a Vida, a Morte e o Renascimento.

Nesse sentido, Hécate, que no mito e nos Mistérios tem um forte papel de Guia, é aquela que permite a decida ao Mundo Inferior, não só de Perséfone, mas também dos iniciados, para que eles possam encarar seus medos, aquilo que eles não querem ver, para que possam enxergar os segredos que permeiam a Vida, a Morte e principalmente o Renascimento. Hécate é aquela guia as almas pelos Mundos Escuros, aquela que permite que cada um encontre sua sombra, e que desses encontros e jornadas, possam se tornar pessoas mais iluminadas e conscientes. Ela é a Portadora das Tochas, que Iluminam os Caminhos e que guia pelo os momentos mais escuros. Sua Luz é aquilo que Renovam as Esperanças, quando a Noite parece mais escura, sua presença faz que a força para continuar cresça dentro de cada pessoa.

Aqui estão alguns links que achei interessantes para aprender mais sobre o Mistério de Elêusis.

The ritual path os initiation into the Eleusinian Mysteries (onde o autor dá detalhes da cerimônias realizadas para a iniciação)

Academy Sacred Geometry

Dave Fredrick's Summary of the Eleusinian Mysteries.






As divindades femininas: No princípio, eram as Deusas

Retirado de Revista Super Interessante

As divindades femininas: No princípio, eram as Deusas

  • Nos quatro cantos do mundo, as primeiras divindades eram mulheres: Pótnia, Astarte, Ísis, Amaterazu, Nu Gua. Nas antigas sociedades, elas representavam o começo e o fim de tudo. Hoje, ajudam a entender o passado remoto dos homens.

  • Por Da Redação
  • 31 jul 1988, 22h00- Atualizado em 31 out 2016, 18h54
Maria Inês Zanchetta
Em Çatal Huyuk, na Turquia, a estatueta de uma mulher sentada num trono e ladeada por duas panteras, em cujas cabeças ela coloca as mãos, sugere ao mesmo tempo a imagem da mãe e da senhora da natureza. Suas formas generosas — quadris largos e seios grandes— reforçam ainda mais essa ideia. O nome da figura feminina é Pótnia, a Deusa de Çatal Huyuk, a mais antiga cidade que se conhece do período Neolítico, cerca de 10 mil anos atrás. De Pótnia nasceram outras divindades femininas também adoradas pelos homens pré-históricos. Sua estatueta, esculpida por volta de 6500 a.C., foi uma das muitas encontradas na Europa e no Oriente Médio, algumas mais antigas, do Paleolítico Superior (de 50 mil a 10 mil anos atrás).
Essas descobertas levaram historiadores e arqueólogos a sugerir que, bem antes de venerar Deuses masculinos, os antepassados do homem teriam adorado as Deusas, cujo reinado chegou até a Idade do Bronze, há cerca de 5 mil anos. Não se sabe a rigor o exato significado daquelas estatuetas, até porque pouco ou quase nada se conhece dos costumes dos homens pré-históricos. Mas não resta dúvida de que por um bom tempo as Deusas reinaram sozinhas, deixando os poderes masculinos à sombra. Em seu livro "Um é o outro", a filósofa e professora francesa Elisabeth Badinter tenta explicar a supremacia feminina a partir do que se supõe teriam sido as relações entre homens e mulheres naquelas épocas distantes.
A ideia é que o homem do Neolítico—ao contrário dos seus antecessores do Paleolítico, que eram caçadores, e dos seus descendentes da Idade do Bronze, guerreiros— dedicava-se à criação de rebanhos e à agricultura. Ou seja, já não era necessário arriscar a vida para sobreviver. Nesses tempos relativamente pacíficos, em que a força bruta não contava tanto como fator de prestígio e as diferenças sociais entre os sexos se estreitavam, é bem possível que Deusas—e não Deuses—tivessem encarnado as principais virtudes da cultura neolítica.
Entre as centenas de estatuetas encontradas, algumas têm em comum os seios fartos e os quadris volumosos como Pótnia. Talvez a mais famosa seja a Vênus de Willendorf, encontrada às margens do rio Danúbio, na Europa Central. Nela, os seios, as nádegas e o ventre formam uma massa compacta, de onde emergem a cabeça e as pernas — na verdade, pequenos tocos. Igualmente reveladora é a Vênus de Lespugne, descoberta na França: embora mais estilizada, guarda as mesmas características de sua irmã de Willendorf.
Mas, das esculturas pré-históricas encontradas até hoje, são raras as que apresentam os traços femininos tão exagerados — o que dá margem a um debate sobre o que significava afinal a figura feminina (devidamente divinizada) nos primórdios das sociedades humanas. Os historiadores tendem a achar que os primeiros homens a viverem em grupos organizados davam mais importância à sexualidade feminina do que à fertilidade, embora não seja nada fácil separar uma coisa da outra. No entanto, a imagem à qual acabaram associadas foi a da maternidade. Há quem não concorde. “Traduzir o culto dos ancestrais às Deusas como simples exaltação à fertilidade é simplificar demais”, comenta a historiadora e antropóloga Norma Telles, da PUC de São Paulo, que estuda mitologia praticamente desde criança. “Na realidade, a Deusa não é aquela que só gera. Ela é também guerreira, doadora das artes da civilização, criadora do Céu, do tecido e da cerâmica, entre muitas outras coisas.”
De fato, em muitos mitos, a Deusa aparece como quem dá o grão aos homens, e não apenas no sentido literal de nutrição. Assim, por exemplo, Deméter, venerada pelos gregos como a Deusa da colheita, ajudava a cultivar a terra — arar, semear, colher e transformar os grãos em farinha e depois em pão. Deméter ensinava ainda os homens a atrelar as animais e a se organizar. Os gregos explicaram a origem do mundo com outro mito feminino: o da Deusa Gaia. Doadora da sabedoria aos homens, ela limitou o Caos—o espaço infinito—e criou um ser igual a ela própria: Urano, o céu estrelado.
Pouco depois, Eros, símbolo do amor universal, fez com que Gaia e Urano se unissem. Desse casamento nasceram muitos filhos e, assim, a Terra foi povoada. A crença de que o Universo foi criado por uma divindade feminina está presente em quase toda parte.
Ísis, a mais antiga Deusa do Egito, tinha dado a luz ao Sol. Na Índia, Aditi era a Deusa-Mãe de tudo que existe no céu. Na Mesopotâmia, Astarte, uma das mais cultuadas Deusas do Oriente Médio, era a verdadeira Soberana do Mundo, que eliminava o velho e gerava o novo. Essa idéia aparece com clareza nas efígies datadas de 2 300 a.C., que mostram Astarte sentada sobre um cadáver. Também para os chineses foi uma Deusa—Nu Gua — quem criou a humanidade. Seu culto apareceu durante o período da dinastia Han (202 a.C.-220 d.C.). Representada com cabeça de mulher e corpo de serpente, a venerável Nu Gua encarnava a ordem e a tranqüilidade.
Os chineses dizem que, cavando barro do chão, ela moldou uma figura que, para sua surpresa, ganhou vida e movimento próprio. Entusiasmada, a Deusa continuou a moldar figuras, mas a natureza mortal de suas criaturas a obrigava a repetir eternamente o trabalho. Por isso, Nu Gua decidiu que os seres deviam se acasalar para se perpetuarem—daí também ela ser considerada pelos antigos chineses a Deusa do casamento. Do outro lado do mundo, na América pré–colombiana, os astecas tinham em Tlauteutli sua Deusa da Criação. Para eles, o Universo fora feito de seu corpo. Os maias tinham igualmente sua Deusa-Mãe. Era Ix Chel. De sua união com o Deus Itzamná nasceram os outros Deuses e os homens.
Com o passar do tempo, Deuses e homens passaram a dividir com as Deusas o espaço no Panteão, o lugar reservado às divindades. Para Elisabeth Badinter, isso acontece quando a noção de casal vai deitando raízes nas sociedades. Pouco a pouco, da Europa Ocidental ao Oriente, “reconhece-se que é preciso ser dois para procriar e produzir”, escreve ela. Mas o culto à Deusa–Mãe ainda não é substituído pelo do Deus–Pai. O casal divino passa a ser venerado em conjunto. As Deusas só serão destronadas com o advento das religiões monoteístas, que admitem um só Deus, o masculino. Com a difusão do cristianismo, as antigas Deusas são banidas do imaginário popular.
No Ocidente, algumas acabaram associadas à Virgem Maria, mãe do Deus dos cristãos, outras se transformaram em santas. Mas outras ou foram excluídas da história ou acusadas pelos padres de demônios e prostitutas. As Deusas das culturas indo-européias tinham em comum o poder de criar, preservar e destruir—davam a vida e recebiam de volta o que se desfazia. Esse aspecto destrutivo das divindades femininas foi o mais atacado pelos inimigos do politeísmo. A suméria Astarte, por exemplo, não escaparia à ira nem dos profetas bíblicos nem dos primeiros cristãos: para uns e outros, ela era a encarnação do diabo.
No império babilônico, Astarte foi venerada sob o nome de Ishtar, que quer dizer estrela. Nos escritos babilônicos, Ela é a Luz do mundo, a que abre o ventre, faz justiça, dá a força e perdoa. A Bíblia, porém, a descreveria como uma acabada prostituta. A importância dada ao lado violento, destrutivo, talvez explique por que a Deusa hindu Kali Ma aparece no filme de Steven Spielberg, O templo da perdição, como a encarnação da violência. Ela é a sanguinária figura em nome da qual se matam e torturam adultos e se escravizam crianças.
No entanto, para os hindus, mais especialmente para os tantras — adeptos de uma derivação do hinduísmo —, Kali é a Deusa da transformação e nesse sentido mais filosófico é que ela é destruidora, da mesma forma como a passagem do tempo destrói. Representada como uma mulher negra com quatro braços e uma serpente na cintura, pode aparecer também com um colar de crânios no colo e uma cabeça em cada mão.
Em seus templos, espalhados por toda a Índia, realizavam-se sacrifícios de búfalos e cabras. “Para os orientais, Kali é a desintegração contida na vida, visão essa que nós ocidentais não temos”, interpreta a antropóloga Norma Telles. Se Kali foi vista como Deusa sanguinária, outras divindades compensavam tanta violência. Sarasvati, a Deusa dos rios, era para os hindus a inventora de todas as artes da civilização, como o calendário, a Matemática, o alfabeto original e até os Vedas, o texto sagrado do hinduísmo.
Também na América pré-colombiana, sobretudo entre os astecas, o culto às Deusas e Deuses incluía muitas vezes sacrifícios humanos. A Deusa Tlauteutli é um bom exemplo. Um dia, os Deuses descobriram que ela ficaria estéril, a menos que fosse alimentada de corações humanos. Na verdade, os astecas tinham uma visão apocalíptica do mundo: se não alimentassem a Deusa, a Terra se acabaria.
Mas, à medida que começava a crescer o culto à Deusa da maternidade, Tonantzin, diminuía o interesse dos astecas pelos Deuses aos quais se faziam sacrifícios sangrentos. Mais tarde, com a chegada dos conquistadores espanhóis, Tonantzin foi identificada com a Virgem Maria. Isso acabaria acontecendo também com a Deusa Ísis. Cultuada no Egito e no mundo greco–romano, ela representava a energia transformadora. Casada com o Deus Osíris, morto pelo próprio irmão, Ísis não sossegou enquanto não lhe restituiu a vida. A lenda conta que as enchentes do Nilo eram causadas pelas lágrimas da Deusa que pranteava a morte do amado. Por isso, as festas em sua homenagem coincidiam sempre com a época das cheias. É evidente que, ao festejá-la, os egípcios comemoravam a generosa fertilidade do rio Nilo. Nos primeiros séculos cristãos, Ísis passou a ser identificada com Maria.
Já a Deusa Brighid, cultuada pelos celtas, ancestrais dos irlandeses, foi transformada pelo cristianismo em Santa Brigida. A veneração daquele povo por Brighid era tanta que ela era chamada simplesmente “a Deusa”. Dona das palavras e da poesia, era também a padroeira da cura, do artesanato e do conhecimento. As festas em sua homenagem se davam no dia 1º de fevereiro, antecipando a chegada da primavera. Na história cristã, a santa nasceu no pôr-do-sol, nem dentro nem fora de uma casa, e foi alimentada por uma vaca branca com manchas vermelhas. Na tradição irlandesa, a vaca era considerada sobrenatural.
Antes mesmo da chegada das religiões monoteístas, os mitos dizem que o convívio entre Deuses e Deusas começou a se tornar difícil e a igualdade dos poderes divinos começava a ficar abalada. Assim, por exemplo, Amaterazu, a Deusa japonesa do Sol, de quem descendiam os imperadores, não se dava muito bem com o Deus da Tempestade. Conta a lenda que certo dia ele foi visitar os domínios da Deusa e acabou por destruir seus campos de arroz. Furiosa, Amaterazu resolveu vingar-se trancando-se numa caverna — o que deixou o mundo às escuras. Depois de um tempo, como ela não saía da caverna, uma multidão de Deusas e de Deuses menores decidiu armar uma estratégia para convencê-la a mudar de ideia. Assim, colocaram diante da caverna um espelho que refletia a imagem do Deus da Tempestade, como se ele estivesse enforcado numa árvore, e começaram a dançar.
Atraída pela música, a Deusa decidiu sair para ver o que acontecia. Ao deparar com a imagem no espelho ficou feliz e voltou ao mundo. Com isso, tudo se normalizou e os dias continuaram a suceder às noites. Outro exemplo dos conflitos entre as divindades é o caso da Deusa grega Deméter e Hades, o Deus do Mundo dos Mortos. Eles começaram a brigar pela guarda de Perséfone e a questão só foi resolvida com a mediação de Zeus, o Deus Supremo do Olimpo. Salomonicamente, Ele determinou que a menina ficasse com cada um durante partes do ano. Das Deusas veneradas no Mundo Antigo, não houve tantas nem tão famosas como as da mitologia greco–romana. Afrodite (Vênus, em Roma) talvez fosse a mais popular de todas, por encarnar o Amor e as formas belas da natureza.
Já Ártemis (Diana) era a Caçadora Solitária, Senhora dos Bosques e dos Animais. Seus lugares preferidos eram sempre aqueles onde o homem ainda não tinha chegado. Atena (Minerva) protegia a cidade, as casas e as famílias. O predomínio que as divindades femininas exerceram ao longo do tempo levou alguns pesquisadores do século XIX a supor que na pré-história as mulheres detiveram alguma forma de autoridade política. Não há registros arqueológicos que confirmem isso — hoje os especialistas não admitem que tenha existido alguma sociedade cujo controle estivesse com as mulheres. Mas também é certo que nos tempos pré-históricos, quando era outra a divisão social do trabalho, as mulheres tinham um papel preponderante na luta pela sobrevivência do grupo. É impossível saber com exatidão quando e por que deixou de ser assim. De uma coisa, porém, não se duvida: foram os homens quem primeiro traçaram a mitologia das Deusas.
A primeira mulher de Adão
Segundo uma antiga lenda, a primeira companheira de Adão não foi Eva, mas uma Deusa chamada Lilith—”monstro da noite”, para os antigos hebreus—que brigou com Deus e por isso foi transformada em demônio. Na verdade, o castigo maior que Ihe impuseram os sacerdotes foi excluí-la dos relatos bíblicos da criação do mundo. Lilith, versão hebraica de uma divindade babilônica, sinônimo de “face escura da Lua”, não se dava bem com Adão. Certo dia, cansada de desavenças, Lilith abandonou o marido e foi para o mar Vermelho, onde passou a viver entre demônios, com quem teve vários filhos.
Inconformado, Adão foi pedir a interferência de Deus. Este determinou então que Lilith voltasse imediatamente para casa. Mas ela recusou-se e foi condenada a devorar todos os seus filhos. Não bastasse, passou a ser considerada um demônio igual a outras Deuses do Mundo das Trevas. Por tudo isso, no folclore judaico, cada vez que morria uma criança, dizia-se que Lilith a tinha levado. A lenda de Lilith perdurou entre os judeus pelo menos até o século VII.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Celebrações de começo e final de mês

Não sei se já falei sobre as festividades de Deipnon aqui no blog, mas venho aqui hoje explicar como eu as realizo, pois sei que muitos novatos nos Caminhos de Hécate, não que eu também não seja novata, têm muitas dúvidas.

Olho no calendário lunar o dia em que vai cair a Lua Nova, os horários tem que ser observados também para uma maior precisão de datas, lembrando que o novo dia grego começa no pôr do Sol. Esse dia considero o Deipnon. Fiz uma postagem aqui sobre isso.
Preparo uma ceia para Hécate (normalmente com bolos, tortas salgadas ou omelete, vinho, mel, maçã...) e coloco em alguma encruzilhada (de preferência a noite, mas se não tiver como, pode-se fazer na tarde do dia anterior ao Deipnon), juntamente com os "leftovers", isso é, os restos de velas, incensos, fósforos. Faço uma purificação das energias negativas acumuladas em minha morada (em sentido anti horário acompanhando as paredes, utilizando algum instrumento, eu uso a Foice), depois faço uma consagração com energias que desejo para o novo mês (em sentido horário, eu uso uma Trívia de instrumento). Retiro todos os lixos gerados durante o mês e limpo bem todos os altares.
Na prece a Ela, recito alguns hinos (aqui no blog tem vários) e peço que purifique e finalize o mês que termine e abra novos caminhos para o que começa.

No dia seguinte, na Noumenia, apenas faço uma prece a Ela, para que abençoe meus mês com energias positivas, e se há algum projeto para ser iniciado, é um bom dia para pedir sua benção.

No terceiro dia de celebrações, faço oferendas (vinho e incenso, respectivamente), recito hinos e faço agradecimentos a Agathos Daimon e Tyche, por todas as bençãos no mês anterior e peço que Eles me abençoem no mês que se inicia.

No quarto dia de celebrações (terceiro dia do mês), rezo a Atena, também agradecendo pelas bençãos no mês anterior e pedindo que me abençoe no mês que se inicia. Recito seus hinos e faço oferendas de azeite, azeitonas e folhas de oliveira.

Se alguém tiver ainda alguma dúvida, deixe aqui nos comentários que eu respondo.

Deturpação das imagens das Deusas

Estudando a transformação das Faces das Deusas durante a história, percebo que, quanto mais o tempo passa, mais seus cultos são deturpados. A exemplo, temos Hécate, que de Deusa Benevolente, Lunar e Universal, se tornou a feiticeira, maligna e infernal. Outro exemplo é Afrodite, que de Deusa da Fertilidade, passou apenas para questões menores do Amor mundano. Hera também, que Rainha dos Deuses, ficou muito mais marcada nos mitos como apenas a Esposa ciumenta.
Não pesquisei isso, são apenas reflexões que me ocorreram durante os meus cultos, e posso dizer que tenho uma ligação muito mais forte com os aspectos mais "antigos" das Deusas, uma ligação bem mais forte com a Hécate descrita por Hesíodo (como pode ser visto aqui) e com a Afrodite em seus amplos domínios do Amor e da Fertilidade.

Acredito que com o advento das sociedades mais "civilizadas" e machistas, progressivamente, Elas foram perdendo seus aspectos mais poderosos e universais. Essa perda foi ainda mais acentuada com o advento das religiões monoteístas.

Falando sobre as religiões monoteístas, e principalmente sobre a cristã, percebe-se que muitos dos seus mitos foram herdados das Religiões Antigas, como o próprio mito da ressuscitação, que não é uma grande novidade, vide o Hino Homérico a Deméter.

Venho com esse texto, apenas tentar trazer aos meus colegas pagãos, a necessidade que é pesquisar mais as raízes históricas de nossas Deusas, pois suas histórias são extremamente ricas e iluminam o nosso caminho e o nosso culto a Elas.

Afrodite, Astarte e Ishtar

Estava recentemente as ligações entre Afrodite, Astarte e Ishtar. Tanto Astarte quanto Ishtar são considerada como Grandes Deusas Mães, Senhoras da Fertilidade, do Amor, da Sexualidade, da Beleza, e até mesmo da Guerra. Ambas são consideradas como as principais Deusas de seus panteões, o Fenício e o Mesopotâmico respectivamente. Afrodite então seria a representação dessas Deusas no mundo grego, Deusas as quais os cultos teriam sido levados à Grécia por mercadores e comerciantes. Todas as Deusas eram relacionadas ao planeta Vênus, ou a Estrela da Manhã. Astarte tinha grande influência sobre toda a região do Oriente Médio, sendo venerada por muitos povos, inclusive os judeus antes de virarem monoteístas.

A descoberta dessa ligação para mim foi muito importante, pois, desde o início do meu culto a Afrodite, sentia seu Amor, como o Amor Criador da Vida, aquilo que faz as coisas se unirem para criar novas coisas. Não tanto como o Amor Sexual que alguns acreditam que é o único Amor que Afrodite proporciona. Afrodite, em sua origem, está intimamente relacionada à fertilidade, uma vez que o seu próprio nome, tem relação com seu nascimento da espuma do Oceano, e traz uma relação com a umidade que permite a vida crescer na terra.

Acredito que a relação de Afrodite com a fertilidade da terra não tenha sido tão explorada na cultura grega devido à presença de outras divindades, como Gaia e Deméter, que tinham esse papel.

Aqui estão alguns link que tem informações legais sobre as Deusas Astarte e Ishtar:

Ancient Spirituality
Thalia Took
Angel Fire

domingo, 15 de janeiro de 2017

Termos em grego

Olá, fiz uma postagem com as traduções dos principais termos que uso em minha devoção, não que em português ou inglês seja errado, porém gosto de incorporar algumas palavras no meu dia a dia. Eles estão organizados com a parte em português, a em grego e a tradução fonética aproximada (feita por mim).

Saudações

Bom dia - Kaliméra - kaliméra

Boa tarde - Kaliméra

Boa noite (início) - Kalispéra - kalispéra

Boa noite (final) - Kalinixta - káliniqstá

Nomes

Deusas - Theés - Têés

Deuses - Theoí - Teíí

Hécate - Ekáti - Êcáti

Afrodite - Afrodíti - Afrodíti

Tyche - Týchi - Tíchi

Agathos Daimon - Agathós Daímon - Agatós démon

Atena - Athína - A(th)ína (somo daquele "th soprado" em inglês)

Frases

Por favor - Parakaló - parácaló

Purificado seja - Katharízoume - catárizumê

Consagrado seja - Cheirotoníthike eínai - cherotônítique iné

Ofertado seja à ... - Na prosférontai - na prosferotê

Eu oferto ó ... - Prosféro

Me abençoe - Evlogeí mou - evloguê mú

Boa sorte - Kalí týchi - kaletíchê

(as abaixo não coloquei a parte fonética, porém ela é semelhante ao escrito em grego)

Muito obrigada por sua benção - Sas efcharistó gia tin evlogía sas

Peço sua benção - Zitó tin evlogía sas

Pela vontade de ... -  apó ti thélisi tis ...

Agradeço por sua presença em meu dia, e por suas muitas bençãos - Sas efcharistó gia tin parousía sas stin iméra mou, kai gia pollés evlogíes tou

A Concepção da Magia na Atenas Clássica: O Caso da Deusa Hécate

Olá, já havia falado aqui sobre o texto A Concepção da Magia na Atenas Clássica: O Caso da Deusa Hécate, de Leandro Barbosa. O texto é bastante interessante, assim sendo resolvi separar minhas passagens favoritas.





















sábado, 14 de janeiro de 2017

Fontes seguras de informação sobre Hécate na sociedade grega

Olá gente, estava pesquisando como Hécate se apresenta na Teogonia de Hesíodo, uma vez que nesse antigo escrito, Hécate é venerada por todos os Deuses, principalmente por Zeus,  e onde tem em sua representação uma forma benevolente. Pessoalmente, é a representação que mais gosto e mais sinto verdadeira Dela.
Eu particularmente não confio muito em informações de blogs (mesmo que eu tenha um blog hahahaha), por isso encontrei alguns livros, artigos e teses (de fontes acadêmicas, no eixos da História, Filosofia e Política) que gostaria de compartilhar com vocês, e que recomendo que vocês leiam, pois é uma visão diferente da Deusa, baseada em estudos da sociedade grega, principalmente a Ateniense, que agregam muito no conhecimento de sua História.

Está aqui alguns links que gostaria de compartilhar:

Fronteras e identidad en el mundo griego antiguo: III (o texto está em espanhol, mas é super fácil de entender, e ele é extremamente bom, este é o que mais recomendo vocês lerem)

A concepção da magia na Atenas Clássica: o caso da Deusa Hécate (o texto tem 19 páginas, mas é uma leitura muito tranquila e interessante, também recomendo muito vocês lerem ele)

A portrait of Hecate (texto em inglês que discute a representação de Hécate na Teogonia)


Trecho retirados de "Portrait of Hecate"



sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Hécate Kourotrophos do Universo

Eu li, em algum lugar que não lembro, que Hécate era considerada Kourotrophos do Universo. Uma vez que esse papel de "Nutriz de Jovens" é aquele que está presente no crescimento e no amadurecimento de qualquer ser, refletia-se que Hécate, nesse papel, poderia estar relacionada à criação do Universo. Lembrando que Hécate é extremamente antiga e poderosa, tão poderosa que o próprio Zeus, como descrito na Teogonia, honrava muito Hécate, e que Ela tinha um poder comparável ao Dele.

Não tenho como comprovar essa linha de pensamento, mas fica essa questão para uma meditação posterior, sobre o poder Dela.

Leitura recomendada

Achei um artigo bem legal na Goddess School que fala sobre a história e faz algumas reflexões sobre os epítetos de Hécate, como os de Propylaia, Phosphoros, Propolos, Chthonia e Kourotrophos.
Mesmo que não enxergue as diferentes faces de Hécate exatamente como o artigo descreve, acredito que seja importante, para qualquer pessoa que quer um contato maior com a Deusa Hécate, uma meditação sobre o que cada epíteto e cada face Dela representa para você.

Atualização: o site Cucina Strega tem explicações de algumas faces de Hécate. Vale a pena ler!